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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Nos Últimos Momentos...


Nos últimos momentos, talvez procure o teu calor, a tua ternura, ou apenas decida abandonar-me na solidão solene do último olhar...
Nos últimos momentos, é provável que a fragilidade seja próxima da orfandade, é natural que te pegue na mão para que a partida seja menos dolorosa...
Receio a aflição dos instantes derradeiros, sabendo-os finais...
A solidão comporta uma forma muito especial de ante-câmara da morte...
Confesso que não deveria estar a falar da morte, da minha morte, quando a vida ainda me pode surpreender...
Não sei, a tarde caiu densa e sufocou o meu coração e a minha alma magoada de uma dôr indizível...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Sinto o Tempo a esvair-se...


Este pode ser o instante último dos pensamentos

que ainda me restam…

Instante de dor consentida na mágoa

Alucinante da saudade…

Instante último de um tempo

Que não sendo meu, senti que um dia era minha pertença…

Não lhe conhecia o seu rosto,

Não imaginava os seus contornos…

A sua presença era visível na ausência…

Contudo, o hábito do novo dia,

Criava em mim a ilusão…

Não pensava o tempo a finar-se

Levando-me consigo…

Vivia numa inconsciência só geneticamente consciente…

Acreditava na Eternidade como fazendo parte dela….

Hoje, sinto a angústia das horas,

O anunciar de novas perdas…

Ausências que anunciam outras ausências…

Agora o coração chora baixinho,

Não vá o tempo acordar de mau humor…

A dor que se expande na Alma,

Uma dor cansada, rendida…

A angústia dos fins, das inexistências infindáveis…

As vozes, os rostos, os passos, os sorrisos e as lágrimas

Que partiram para sempre…

Acordo e sei que amanhã voltarei para a sua inexistência…

Hoje tenho a clarividência de saber

Que a maior parte das coisas

Que me disseram que eram as mais importantes,

Valiam menos que o mais fedorento excremento…

Hoje, mais que ontem, menos que amanhã,

Tenho a certeza que nos militarizam a mente

Durante dois terços da vida…

Mentindo-nos sobre os valores autênticos e nobres da vida…

Durante dois terços da vida enganam-nos

Com slogans publicitários de Poder, Juventude, Riqueza,

Incitando-se a requerer o ingresso no mundo dos poderosos,

Oferecendo-se o primeiro lance ainda na condição de escravos…

Um dia, de repente, convencem-nos que já não precisam de Nós,

Somos velhos, inadequados, desactualizados, inúteis…

Tecnologicamente Incapazes…

Tentam dizer-nos que o Amor é sinónimo de Pornografia…

Reduzem o valor de um beijo, de um abraço ou de um sorriso…

O valor de tudo reside na susceptibilidade de poder ser convertido em valor económico…

Os amigos de ontem, hoje são homens e mulheres de negócios sem tempo

Para investir em relações sem valor monetário…

Todas as pequenas coisas de que a vida é feita,

São coisas ridículas….

Devemos envergonhar-nos das nossas emoções…

Somos patéticos…

Lentamente, acabam por nos abandonar num lugar sem nome,

Onde nada nos é familiar…

Um lugar, onde, quantas vezes, durante a Noite nos erguemos,

Como fantasmas, procurando na escuridão os velhos interruptores…

Quantos sons pensámos ter escutado…

Por instantes, pequeninas fracções de Tempo,

Quase sentimos Esperança,

Quase podemos sentir o calor do nosso velho cão roçar as nossa frágeis pernas…

Quase Acreditamos num Milagre,

Um Milagre antes do último instante…

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Algures...


Não sei se é tarde em mim ou se a madrugada insiste em romper o véu deste real que me separa e corroi...
Não sei se é tarde ou manhã ou se ainda me resta algum tempo mais...
Não sei a côr dos teus lábios nem se os consigo tingir com o cansaço dos meus...
Não sei se as lágrimas podem ser eternas, nem se a angústia morre nos meus gestos de não acontecer...
Desconheço o sabor das palavras, a forma de suavizar o abismo... Nada resiste ao ondular indistinto do pensamento...
Nenhuma palavra, gesto ou grito sobreviverá...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Amar-te em Silêncio...


Percorro o teu corpo no silêncio mais profundo, evitando acordar o tempo...

Arde em nós a lava dos vulcões primeiros, tal como o toque dos nossos lábios...

Sinto-te na manhã de todas as manhãs, única no amanhecer suave e rosa...

Amo-te sem precisar de articular uma palavra...

Noite mortífera...


Cavalguei na noite as vestes do guerreiro perdido,

senti a lança da escuridão apertar-me o peito num golpe final...

Alheio à luz, percorri a escuridão na angústia perfumada de morte...


Nada nem ninguém me pode libertar,

a noite adensa-se dentro de mim,

toma conta de todo o meu Ser...


Incapaz de libertar uma lágrima,

a Noite comove-me a Alma de uma dança mortífera...

Queria Olhar-te...


Queria olhar-te uma última vez, olhar-te na imensidão da tua autenticidade...

Queria olhar-te e ver a transparência dos teus desejos...

Queria saber-te nas palavras omitidas, nas expressões ocultas,

Queria navegar-te e sentir-te em mim paisagem,

Queria inventar um beijo com memória eterna,

Queria acreditar que a melodia da tua voz pode voltar a surgir no sopro breve do vento...

Queria pensar-te e acontecer-te num lugar onde o tempo e o espaço se abraçam na eternidade...

Queria ser algo mais, algo inesperado...

Queria ser a palavra não pronunciada, o gesto por cumprir...

Ser-me na Insconsciência consciente do Ser...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Nos últimos momentos...


Não sei se é a saudade ou uma memória vaga, sem contornos nem parâmetros definidos... Não sei... Por instantes, fui sobressaltado por uma imagem grandiosa de um lugar impossível... Vislumbrei a silhueta do teu corpo na contraluz pálida do anoitecer... Não sei se eras tu ou a imagem que criei de tanto te imaginar na tela branca e negra... Não sei se desejava pintar o teu corpo ou apenas esboçar a tua Alma... Não sei... Senti sempre, que os teus contornos do corpo e da alma não se fixariam nunca... Amadureci o branco da tela, coloquei-o numa parede e consegui criar a tua ausência...

Numa tarde sem tempo...


Debruço o pensamento na tua direcção e não vislumbro o teu rosto,

algo ou alguma coisa de estranho, convence-me que exististe,

talvez, tenhas feito um gesto, talvez um som, talvez tenhas sorrido,

neste tempo onde não te reconheço nem invento uma expressão,

rasgo a neblina que te esconde, espreito em busca de um rosto,

um rosto, onde os lábios contrastem com o olhar...

Procuro um rosto que prove a nossa existência breve...

Cordilheira de Sonhos...


Quentes e melodiosos, os teus olhos flamejavam,

suspendias o pestanejar e parecias querer dominar

a eternidade dos instantes com o olhar...



Dentro dos teus olhos vagueavam sombras sem nome,

como se os teus olhos fossem tocas, esconderijos...

Havia dentro do teu olhar um pensamento, uma palavra, por dizer...



Nos teus olhos navegavam oceanos, levantavam-se tempestades,

dos teus olhos partiam e chegavam gestos sem amanhã...

Nos teus olhos ancoravam navios fantasmas
...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Noite dentro da Noite...


Noite de mil Noites, dobrada sobre a madrugada,
Noite amedrontada pelo alvorecer lento e morno,
Noite cansada de não ser dia,
Noite humilhada na escuridão...
Noite perdida de si, dos seus labirintos...
Noite...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Dentro da Noite...

Sombras negras povoam a minha mente,
algo em mim não sou eu,
sinto uma dôr pressentida,
parece-me escutar vozes distantes...

Busco nas palavras o aconchego breve,
o calor de pensar e escrever,
neste acto único e inútil...

Cheguei ao fim das palavras,
sem articular um som...
Dentro de mim, tudo é silêncio,
um silêncio sem rosto...